domingo, 28 de dezembro de 2008

FELIPE TIAGO GOMES - Apóstolo da Educação Comunitária Gratuita no Brasil

UM SANTO A SERVIÇO DA EDUCAÇÃO DOS MAIS POBRES

Felipe Tiago Gomes foi um poema de amor escrito por Deus endereçado a todos os jovens brasileiros que nasceram a partir da década de quarenta. Ele era um homem extraordinário. Figura encantadora e cativante que fez de sua CNEC o grande amor de sua vida e desta instituição uma ponte generosa para chegar aos corações de milhares de brasileiros em todos os recantos de nosso país. Era um homem especial, iluminado por Deus que irradiava paz e alegria onde quer que ele chegasse.
Depois de ouvi-lo por alguns minutos as pessoas ficavam fascinadas com sua prosa, com as suas idéias, com a simplicidade de sua exposição, com suas verdades educacionais e com o carisma que sua pessoa irradiava. Ele sabia encantar as pessoas porque seu único desejo era fazer o seu semelhante cada vez mais feliz.
Convivi com o Professor Felipe Tiago Gomes quase meio século de minha vida e Deus me concedeu ainda o privilégio de estar ao seu lado, quase que diariamente, na sua última década de existência. Isto me permitiu aprender com ele a arte de amar e de bem querer e dele pude recolher lições de vida, de humanismo e de apreço pela educação que fazem parte do grande tesouro de minha vida.
Felipe tinha quatro grandes amores:
a CNEC ( o maior de todos os seus amores);
Picuí, (sua querida terra natal);
seus parentes (D. Maria Gomes - sua dileta irmã - D. Rita, Rosa Anita, Miro, Maria Helena, Ana Maria, Lourdinha, Elias, Aurinez, Expedito e Dário, com os quais não gostava de passar um dia ao menos sem vê-los ou lhes telefonar;
um grupo seleto de amigos especiais com os quais convivia diariamente, dentre os quais eu me incluo, juntamente com D. Lina Mont`Mor, D. Zilda Lebre, Ivone Boechat, Luiz Vasconcelos, Sebastião Garcia, Anézia, e sua equipe de trabalho na administração nacional da CNEC.
Ocupavam também um bom espaço no seu coração dirigentes da CNEC de todo o Brasil, presidentes, superintendentes, líderes comunitários, diretores, professores e admiradores da causa cenecista. Este era o grande universo da sua felicidade. Sua vida girava em torno das escolas, dos alunos, dos dirigentes, dos familiares e dos companheiros da causa da educação comunitária.
Felipe ofereceu as últimas energias de sua vida para construir em Picuí o que ele gostaria que fosse um modelo de educação comunitária para o Brasil. Em sua terra natal fez escolas, construiu hospital, fez casas populares, fazenda-escola, centro de artesanato, rádio comunitária, pousada e centros de aprendizagem e até uma estrada asfaltada ligando sua terra ao Rio Grande do Norte. Dizia “trabalhei cinqüenta anos para ajudar a juventude carente de meu Brasil, agora vou dedicar um pouco do meu tempo para ajudar o povo pobre de minha terra”. E tudo o que o seu prestígio e a sua amizade puderam amealhar ele procurou canalizar uma boa parcela para Picuí onde levou a passeio autoridades e figuras das mais destacadas da vida pública, cultural e política de nosso pais, inclusive o Presidente da República José Sarney que havia sido um dos professores da CNEC numa escola do Maranhão, na década de cinqüenta.
Quando os problemas da administração geral da CNEC roubavam seu sono, ele ia ao telefone para se aconselhar com os companheiros da CNEC de todo o Brasil e depois de ouvir os conselhos e sugestões de cada um dos amigos, seu coração se acalmava, pois via que a sua instituição estava em melhores condições do que aquelas que sua imaginação lhe mostrava.
Em vida Felipe pode desfrutar da alegria de receber o título de cidadania de todos os estados brasileiros e ver o Senado da República de seu país dedicar-lhe uma sessão solene com eloqüentes pronunciamentos de senadores amigos de sua obra e testemunhos comoventes de senadores ex-alunos da CNEC. Também pode ouvir ex-alunos ocupando a tribuna da Câmara Federal para render-lhe as justas homenagens por tudo o que fez em favor da juventude pobre deste país.
Felipe foi verdadeiramente o grande apóstolo da educação da juventude do Brasil. Mais de dez milhões de jovens passaram pelas salas de aula das escolas comunitárias da CNEC. E o mais importante, Felipe fez tudo isto com desprendimento total. Certa vez me pediu que fosse com ele a Picuí para que eu pudesse, como presidente nacional da instituição, receber em nome da CNEC a doação de um imóvel, herança de sua família, que gostaria de transferir para o patrimônio da instituição. E sorrindo afirmava: “quando eu morrer e deixar a CNEC, estarei mais pobre do que quando comecei aqui o meu trabalho”. Administrava o valioso patrimônio da CNEC e dela recebia apenas uma modesta ajuda para custeio de suas necessidades pessoais. Morreu pobre como sempre desejou.
Embora respeitasse e admirasse as pessoas de qualquer profissão de fé, vez por outra dizia que o seu modelo de inspiração de vida religiosa era São Francisco de Assis. Por isto ficou transbordando de alegria quando foi presenteado com uma bela escultura deste admirável fundador da família franciscana. Fez questão de colocá-la em lugar de destaque ao lado de sua mesa de trabalho, em Brasília.
Em função de sua obra e de seu trabalho, conviveu com os poderosos de seu tempo mas não perdeu a simplicidade do homem bom, puro e simples do interior do nordeste, mantendo-se sempre fiel às suas raízes e a sua origem. Tratava com o mesmo carinho e com a mesma distinção as autoridades e as pessoas mais simples da rua ou de suas relações. Conseguia fazer com que as pessoas simples, com as quais convivia, se sentissem importantes na sua presença, pois descobria nelas virtudes e méritos que logo procurava evidenciar para todos os demais.
Fez do lema “ educação para todos, feita por todos “ a grande bandeira de sua existência e desta maneira nasceram sob seu comando mais de duas mil escolas comunitárias no Brasil, desde o maternal até unidades de ensino superior, sendo, destas, as pioneiras a Faculdade de Direito em Santo Ângelo, de Filosofia Ciências e Letras, em Osório, ambas no Rio Grande do Sul, as de Administração de Empresas, em Capivari São Paulo e em Varginha Minas Gerais. Hoje elas passam de uma dezena.
Felipe foi sempre fascinado por aqueles que hoje são chamados de “excluídos”. Devotava-lhes especial consideração e sempre procurou de algum modo oferecer-lhes sua ajuda material, sua atenção e seu carinho. Ele antecipou-se à bandeira empunhada pela igreja católica, fazendo em vida a sua “opção preferencial pelos pobres “, construindo-lhes avenidas de felicidade pelos caminhos da educação.
Deus, em sua bondade infinita, quis arrebatar Felipe definitivamente para o céu, enviando-lhe, como que por acaso, ao leito de agonia, D. Ávila, Arcebispo de Brasília, seu admirador e amigo, de quem recebeu a extrema unção e o perdão de possíveis falhas cometidas em vida. Morreu sonhando com o que ainda poderia construir para os pobres do Brasil, especialmente para os trabalhadores do campo, aos quais desejava oferecer dois mil centros comunitários rurais para acabar de vez com o analfabetismo.
Felipe foi o maior educador brasileiro do último século, pelo ideal de educador comprometido com as causas populares, pela obstinação em construir escolas para os pobres, pela doação da própria vida em favor desta causa, pela luta sem trégua na defesa de seu ideal.
Por tudo isto sua memória merece ser reverenciada por todos os brasileiros. Esperamos um dia poder reencontrá-lo na pátria definitiva.
Augusto Ferreira Neto Ex-aluno e ex -Presidente Nacional da CNEC Membro do Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais

Um comentário:

Silvaniza Ferrer disse...

Caro Sr. Augusto
Sou mestranda na Universidade Federal do Ceará e estou pesquisando a CNEC no Ceará na década de 60. Gostaria muito de conversar com pessoas que conviveram com o Prof. Felipe. Poderia entrar em contato comigo por e-mail? anazediza@yahoo.com.br .Muito obrigada.